A Polícia Federal afastou um gerente da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), em São Luís, que, segundo a PF, recebeu cerca de R$ 250 mil de empresas que estariam envolvidas em um esquema de desvios de recursos públicos.
Essa ação foi realizada no dia 29 de setembro e faz parte da segunda fase da Operação Odoacro, que visa desarticular o núcleo de uma suposta organização criminosa composta por servidores públicos que estariam fraudando licitações e desviando verbas federais da Codevasf.
Além de ter sido afastado da função pública, também foi cumprido um mandado de busca e apreensão na casa do gerente, que não teve o nome informado.
Em nota, a Codevasf afirmou que colabora com o trabalho da Justiça e que o processo judicial sobre o caso está sob segredo de Justiça. A empresa disse ainda que possui sólida estrutura de governança implantada e que indícios de conduta ilegal ou antiética por parte de seus funcionários são apurados.
Operação Odoacro
A primeira fase da Operação Odoacro foi realizada no mês de julho em São Luís, Dom Pedro, Codó, Santo Antônio dos Lopes e Barreirinhas, com 16 mandados de busca e apreensão. Nos locais onde a PF esteve, foram apreendidos relógios de luxo e R$ 1,3 milhão em dinheiro vivo.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2022/p/t/tpt4WHTemLkFHj24IW2w/whatsapp-image-2022-07-20-at-13.45.40.jpeg)
Parte do dinheiro que foi apreendido pela Polícia Federal na Operação Odoacro — Foto: Divulgação/PF
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2022/k/e/nslGKeThqbB7IMuWGBTA/whatsapp-image-2022-07-20-at-08.19.08-1-.jpeg)
Relógios de luxo encontrados durante a operação 'Odoacro' no Maranhão — Foto: Divulgação/PF
A principal empresa envolvida no suposto esquema é a Construservice, no qual a Codevasf possui contratos para realização de obras de pavimentação com asfalto ou bloquetes, assinados entre 2019 a 202, em 12 municípios. Somados, os contratos chegam a R$ 15 milhões.
O principal sócio da empresa é Eduardo José Barros Costa, o 'Eduardo Imperador', que chegou a ser preso no âmbito da Operação Odoacro, mas pagou fiança de R$ 121 mil e foi solto com o uso de tornozeleira eletrônica.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2022/I/U/McrTrMTqma8LjFcURCHQ/whatsapp-image-2022-07-21-at-17.06.33.jpeg)
O empresário Eduardo Costa, conhecido como 'Eduardo Imperador', está preso no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís. — Foto: Divulgação
Em todos os contratos, também chama a atenção a falta de indicação do local exato onde seria realizada a obra de asfaltamento. Há somente o nome do município. Veja na tabela abaixo os locais e valores.
Contratos da Codevasf com a Construservice no Maranhão
Data do contrato Período de vigência Municípios Tipo de serviço Área de aplicação da obra Valor contratado (com aditivos)
14/10/2020 06/10/2020 - 01/10/2022 Lago da Pedra Pavimentação em blocos intertravado de concreto (bloquete) 16.383,53 m² R$ 1.335.749,00
01/02/2021 13/04/2021 - 10/10/2022 Jenipapo dos Vieiras, Cantanhede, São João do Paraíso e Humberto de Campos Pavimentação em blocos intertravado de concreto (bloquete) 23.426,33 m² R$ 1.910.000,00
23/12/2021 Não consta Gonçalves Dias Pavimentação Asfáltica 8.062,47 m² R$ 955.000,00
21/12/2021 Não consta Lago do Junco Pavimentação Asfáltica 12.093,71 m² R$ 1.432.500,00
21/12/2021 Não consta Tuntum Pavimentação Asfáltica 8.062,47 m² R$ 955.000,00
21/12/2021 Não consta Pedreiras Pavimentação Asfáltica 36.281,13 m² R$ 4.297.500,00
21/12/2021 Não consta Mirador Pavimentação Asfáltica 12.093,71 m² R$ 1.432.500,00
21/12/2021 Não consta Vitorino Freire Pavimentação Asfáltica 12.093,71 m² R$ 1.432.500,00
21/12/2021 Não consta Matões Pavimentação Asfáltica 12.093,71 m² R$ 1.432.500,00
Fonte: Acesso a informação/Codevasf
Contratos são alvo de investigação
Segundo a Polícia Federal, parte dos contratos da Codevasf com a Construservice são suspeitos de terem sido fraudados durante o processo licitatório.
O esquema não é novo e é uma cópia do que já era realizado em 2015, na cidade de Dom Pedro (MA), onde a Polícia Civil do Maranhão fez uma grande operação e chegou a prender o mesmo 'Eduardo Imperador'.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2022/N/G/d3gcUIQGA9N9Lhe3PFNQ/g1-ma-construservice.jpg)
Construservice é investigada por desvios de recursos públicos da Codevasf no Maranhão — Foto: TV Mirante
Saiba mais:
Segundo as investigações da Polícia Civil, na época foram desviados R$ 100 milhões de 42 prefeituras do Maranhão. A diferença para o esquema de 2015 para o atual é que antes eram de desviados recursos estaduais, e agora são federais.
Como funciona o esquema
De acordo com a Polícia Federal, tudo começa com a criação de várias empresas de ramos semelhantes, que são usadas para disputar licitações para a realização de serviços para a Codevasf, como pavimentação de ruas ou avenidas.
No esquema criminoso, todas as empresas que vão participar da licitação são ligadas a uma única pessoa, só que de forma camuflada ou oculta. Tanto no esquema realizado em Dom Pedro, como agora com a Codevasf, a PF afirma que essas empresas eram abertas em nomes de 'laranjas', que podem ser amigos ou parentes do líder do esquema.
Porém, além de laranjas, também chamou a atenção a abertura de empresas em nome relacionados ao próprio Eduardo, só que em CPFs falsos. Após serem abertas, a maioria das empresas demonstram ser 'de fachada', ou seja, existiam somente no papel, mas não tinham atuação no mercado.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2022/i/c/IMu5muShaRlSTjAHvxUA/captura-de-tela-2022-07-21-111454.png)
'Eduardo Imperador', apontado como líder em esquema de desvios de dinheiro da Codevasf — Foto: Reprodução/ TV Mirante
No esquema de desvios na Codevasf, uma das poucas empresas que não eram de fachada era a Construservice, no qual o principal sócio é o Eduardo José Costa, só que não de forma oficial. Nos registros oficiais, quem seriam o 'donos' da empresa seriam Adilton da Silva Costa e Rodrigo Gomes Casanova Júnior, só que quem comanda de fato seria Eduardo. Por isso, ele é considerado um 'sócio oculto' da empresa.
A Construservice, segundo a Polícia Federal, era a empresa sempre beneficiada nas licitações. Ou seja, várias empresas participavam da 'competição' pela licitação, só que antes já havia o combinado de que quem ganharia seria a Construservice.
Construservice no governo Bolsonaro
A Construservice é a segunda empresa que mais firmou contratos com a Codevasf no governo do presidente Jair Bolsonaro (PL). Já a Codevasf é uma estatal responsável por realizar obras e serviços em estados do Nordeste, do Norte e no Distrito Federal.
A empresa é comandada por integrantes do Centrão – grupo de partidos que atualmente dá sustentação ao governo Bolsonaro. A estatal recebeu R$ 2,1 bilhões em emendas parlamentares entre 2018 a 2021.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2022/L/v/7ZmsaAQpKLW9FxsS8ggw/construservice.jpg)
Reunião de Eduardo Costa, da empresa Construservice, consta na agenda oficial do presidente da Codevasf, Marcelo Moreira — Foto: Reprodução
Em 16 de dezembro de 2020, consta na agenda oficial do presidente da Codevasf, Marcelo Moreira, um encontro com Eduardo Costa. O evento aconteceu na sala da presidência na sede da empresa, em Brasília.
O outro lado
Na época da prisão, a defesa de Eduardo Costa afirmou que a prisão foi desnecessária, pois o inquérito policial é fruto 'apenas do início da investigação e da visão unilateral da Polícia e do Ministério Público sobre os fatos', e que ele é inocente.
"A defesa de Eduardo José Barros Costa, entende, com base no ordenamento jurídico pátrio, ilegal e desnecessária a prisão temporária de seu constituinte. Informa que tudo o que há nos autos do inquérito policial em curso é fruto apenas do início da investigação e da visão unilateral da Polícia e do Ministério Público sobre os fatos; que ele nunca sequer foi notificado para falar, apresentar documentos e/ou quaisquer outras manifestações defensivas; que, a partir de agora, colabora com a investigação - que corre em segredo de justiça - esperando ter a oportunidade de prestar os devidos esclarecimentos, com os quais demonstrará sua inocência. Inocência, aliás, que deve ser presumida por força de expressa disposição constitucional", disse a nota.
Nenhum comentário:
Postar um comentário