O
Presidente da República informou que não vai assinar o diploma que confere a
Chico Buarque o Prêmio Camões.
Ao
saber dessa decisão do presidente da República, Chico Buarque ironizou que a
ausência da assinatura do presidente valoriza o prêmio.
Traduzindo
sua ironia - a assinatura do presidente mancharia a láurea.
Daqui
a cinquenta anos, o nome do atual presidente apenas figurará na lista dos
presidentes porque uma lista dessa natureza não pode omitir nenhum nome.
Daqui
a mil anos as melodias de Chico Buarque ainda serão cantadas e ele será
celebrado como um dos maiores compositores do Brasil.
O
poder político é passageiro.
O
poder das ideias é eterno.
Somente
quando o titular de poder político é também portador de ideias - um verdadeiro estadista
- sua herança é preservada.
Quando
o titular do poder político é vazio de pensamento, sua lembrança dura o tempo
do seu mandato.
Como
muito bem escreveu Joaquim Ferreira dos Santos,
"Chico
Buarque é a voz que nos resta, a veia que salta, aquele que torna suportável
essa noite de mascarados e pigmeus de boulevard.
Sempre
que tira o violão da capa e pega o dicionário de rimas, o país melhora.
Há
quem prefira escrever a história do Brasil com fuzil, desligar o radar da
estrada e azucrinar os golfinhos de Angra com turistas.
Chico,
armado com a bemol natural sustenida no ar, atira de volta o "luz, quero
luz" que cantam os poetas mais delirantes.
O Brasil de 2019 é uma pátria-mãe tão distraída que parece ter perdido a noção da hora.
Ao
Deus-dará.
É
um trem de candango, um bando de orangotango, todos com um bom motivo para
esfolar o próximo.
A
maioria, trancada em pânico nos seus camarins, toma calmante com um bocado de
gin.
Lá
fora, no Brejo da Cruz, desfila a estarrecedora banda de napoleões cretinos,
todos de marcha-ré em permanente ode aos ratos e às tenebrosas transações.
Nas
horas vagas, apedreja-se a mais recente Geni.
Chico dá esperança
Mesmo
com todo o problema, todo o sistema, ele inventa um outro país - e a gente vai
levando.
É
só uma página infeliz da nossa história.”
Poucos
sabem que Chico Buarque viveu, por algum tempo, em Cachoeiro de Itapemirim.
Seu
pai foi Promotor de Justiça e atuou, por algum tempo, na Comarca de Cachoeiro.
Consta
que, no processo do qual resultou a aposentadoria compulsória de Vinicius de
Moraes, foi escrito, como conclusão:
“Vá
trabalhar, vagabundo”.
Chico
Buarque, valendo-se do episódio, aproveitou a frase, que transformou em verso,
numa de suas mais inspiradas composições.
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