© Reuters O silêncio também foi adotado pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e pelos filhos do presidente |
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente Jair Bolsonaro evitou falar
com a imprensa por duas vezes nesta segunda-feira (10), um dia após ação
policial resultar na morte do ex-capitão Adriano da Nóbrega, acusado de
comandar a mais antiga milícia do Rio de Janeiro e suspeito de integrar
um grupo de assassinos profissionais no estado.
Foragido há mais
de um ano, o ex-PM é citado na investigação que apura a prática de
"rachadinha" no gabinete do hoje senador Flávio Bolsonaro quando o filho
mais velho do presidente era deputado estadual no Rio de Janeiro.
O
presidente também não comentou o tema em nenhuma de suas publicações em
redes sociais feitas ao longo deste domingo (9) e segunda-feira. O
comportamento destoa do habitualmente adotado por Bolsonaro: comemorar
ações policiais em que os alvos são encontrados e até mortos.
Capitão
reformado do Exército, ele foi eleito com forte apoio de militares e
costuma defender publicamente as ações da categoria.
De acordo com
assessores palacianos, o silêncio do presidente reflete sua preocupação
com a situação de seu primogênito. A aliados, ele já deixou
transparecer a inquietação que tem com a apuração de um esquema de
"rachadinha" - que consiste em coagir servidores a devolver parte do
salário para os parlamentares. O caso já levou a ações de busca e
apreensão em endereços de Flávio.
Bolsonaro já confessou temer que
as apurações possam resultar em algo mais grave. Publicamente, ele
evita comentar o caso e já encerrou uma série de entrevistas quando foi
questionado sobre o assunto. Na mais recente delas, em dezembro do ano
passado, pediu que repórteres "ficassem quietos" e disse em tom ofensivo
que um deles tinha "uma cara de homossexual terrível".
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Na manhã
desta segunda-feira, Bolsonaro não permitiu que a imprensa fizesse
perguntas e dirigiu críticas aos jornalistas sem apontar motivo
específico. "[Queria] compartilhar com vocês, mas tudo será deturpado.
Então lamento, mas não vou conversar com vocês. O dia que vocês, com
todo o respeito, transmitirem a verdade, será muito salutar conversar
meia hora com vocês. [Falar de] problemas dos mais variados possíveis,
dá para resolver, gostaria de compartilhá-los. Repito: não o faço
porque, ao haver deturpação, a solução ficará mais difícil, talvez
impossível", disse.
À noite, ao entrar no Palácio da Alvorada, cumprimentou apoiadores e evitou os jornalistas.
Bolsonaro
foi aconselhado a evitar o tema e a desviar do assunto. Em situações
como essa, ele costuma endurecer o discurso contra a imprensa.
O
silêncio também foi adotado pelo ministro da Justiça e Segurança
Pública, Sergio Moro, e pelos filhos do presidente com mandato - além de
Flávio, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o vereador
Carlos Bolsonaro (PSC-RJ).
Ativo nas redes sociais, Eduardo não
comentou a morte do ex-capitão do Bope. Desde que a notícia veio à tona,
na manhã de domingo, Eduardo retuitou vídeo que mostra a participação
do pai em um evento evangélico e fez postagens com críticas à oposição.
Também
dedicou tempo para comemorar a derrota do documentário "Democracia em
Vertigem" no Oscar e para alfinetar o governador paulista, João Doria
(PSDB), pelos transtornos provocados pela forte chuva que atingiu São
Paulo nas últimas 24 horas.
Assim como o presidente, Eduardo
costuma usar as redes sociais para comemorar ações policiais. No
último dia 7, por exemplo, parabenizou a Rota, tropa de elite da PM de
São Paulo, por uma notícia que mostrava aumento de 98% das mortes
cometidas pelos agentes da divisão.
"Parabéns, Policiais! O que
mais causa a morte de policiais é o receio de apertar o gatilho por medo
de ser condenado num tribunal do júri ou massacrado pela imprensa - e
em ambos os casos ele não tem advogado de graça. Nesta fração de
segundos o bandido não titubeia e o assassina", escreveu o
deputado.Flávio passou o dia em Brasília, mas nem ele nem seu advogado
quiseram se manifestar sobre a morte de Adriano.
De acordo com o
Ministério Público, contas bancárias controladas pelo ex-policial foram
usadas para abastecer Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio suspeito
de operar o esquema no gabinete do então deputado estadual no Rio.
Queiroz é amigo do presidente da República.
Adriano teve duas
parentes nomeadas no antigo gabinete de Flávio. Mensagens interceptadas
com autorização judicial mostram ele discutindo a exoneração da esposa,
Danielle da Nóbrega, do cargo.
Ele também foi defendido por Jair
Bolsonaro, então deputado federal, em discurso na Câmara em 2005, quando
foi condenado por um homicídio. O ex-PM seria absolvido depois em novo
julgamento.
Enquanto estava preso preventivamente pelo crime, foi condecorado por Flávio com a Medalha Tiradentes.
Parlamentares
de diversos partidos consideraram a morte de Adriano um episódio grave,
mas dizem acreditar que não haverá consequências no Congresso
pois Flávio, que já assumiu o mandato como alvo das suspeitas, costuma
ter atuação mais discreta no Senado.
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