18 abril, 2011

PDT, a viúva política mais cobiçada do Maranhão

*Por Marco Aurélio Gonzaga Santos.


Muito se tem dito sobre o PDT nos últimos dias aqui no Maranhão, fato que se intensificou naturalmente depois da morte do maior líder popular de sua história política recente: Jackson Kleper Lago.

Para alguns, depois de Jackson o PDT virou uma “colcha de retalhos”. Outros, dizem que o PDT agora é do Sarney. E há aqueles que afirmam que o PDT é uma sigla que continuará na estratégia do “tucano e a rosa” e servirá novamente aos interesses políticos dos prefeitos tucanos João Castelo e Sebastião Madeira de São Luís e Imperatriz respectivamente.

Por fim, o ex-deputado Flávio Dino garante em alto e bom som que “é preciso que o PDT dê continuidade à luta do Jackson Lago na mudança da política no Maranhão”, acrescentando que “temos toda a expectativa de continuar a caminharem juntos”.

O que este partido tem que todos falam mal, mas todos o querem por perto? Qual é, afinal, o “espólio” do PDT ou mesmo de Jackson de que tanto se fala nestes nos últimos dias?

Diz-se que para todo problema complexo, existe uma solução clara e simples e errada como dizia ex-ministro Pedro Malan. Então vamos lá.

Em primeiro lugar, penso que a maioria dos partidos políticos de centro, centro-esquerda e de esquerda, dentre os quais se podem destacar PDT, PSB, PC do B, PPS, PT, estão sofrendo de uma certa “crise de identidade ideológica”. Isso teve início com a chegada do PT ao Palácio da Alvorada, e depois com os demais partidos que aceitaram ficar na chocadeira.

A minha tese é a de que o pragmatismo político do ex-presidente Lula colocou a quase totalidade dos partidos brasileiros, de direita, centro e esquerda numa sacola e deu um nó cego. E todos passaram cerca de oito anos na chocadeira.

Agora, após oito anos, todos esses partidos saíram da chocadeira e estão tentando encontrar seu espaço ao sol na política brasileira.

Fala-se agora em reforma política, partidária e eleitoral, e grande parte dos partidos descobriu que não sabe mais quase nada de si. O PSDB, por exemplo, o maior partido de oposição nacional não definiu ainda qual deve ser sua bandeira depois da era Lula e agora com o governo Dilma. E por aí vai. Veja-se o recente discurso apático proferido por Aécio Neves no Senado da República: um discurso do novo envelhecido. Nenhuma novidade na política nacional.

O PV outro importante partido nacional passa por transformações internas com debates públicos liderados pela ex-petista e hoje verde, Marina Silva. Já fala-se até em PV do B.

O PT se notabilizou por uma miscelânea ideológica e pelo pragmatismo dos companheiros. O exemplo notório é o nosso PT maranhense.

Tem ainda as últimas novidades em termos de partidos políticos: a criação do PSD pelo prefeito de São Paulo Gilberto Kassab.

O Partido da Mulher Brasileira – PMB, que tem como seus principais eixos de luta a valorização social, moral, profissional e política da mulher bem como a integração da sociedade por meio de medidas econômicas, sociais e políticas sem caráter excludente e discriminatório.

O Partido Ecológico Nacional PEN, que tem como meta criar um novo modelo de gestão político-ambiental. Um modelo que respeite especialmente os princípios constitucionais e os direitos fundamentais do cidadão brasileiro, tão esquecidos atualmente.

Resumo da história: em grande medida a desorientação partidária brasileira, a meu ver, decorre de um efeito retardado de terem se submetido irrefletidamente ao tsunami político Luís Inácio Lula da Silva. O resto é a pouca cultura partidária brasileira mesmo. O PDT nacionalmente ressente-se, a meu ver, dos mesmos efeitos da era Lula.

E aqui no Maranhão o PDT perdeu seu grande líder, mas antes disso foi presa fácil de uma tomada de governo no TSE. As imputações foram patéticas: abuso de poder político e econômico do Jackson e Zé Reinaldo contra Roseana Sarney Murad. Isso me lembra uma frase do direito penal para crime impossível: impropriedade absoluta do objeto. É como matar alguém de tiro sem ter bala na agulha.

Bom, de qualquer modo, essa discussão está irremediavelmente preclusa e fora de compasso político e merece registro apenas para fins históricos e como vacina para o futuro de nossa política maranhense e brasileira.

E o PDT maranhense? Bem, além dos problemas mais gerais, foi vítima do fogo amigo e do abuso de poder político e econômico da estratégia PMDB-PT. Duas armas que derrubam irremediavelmente qualquer liderança política.

As eleições passadas foram marcadas por esses dois eixos estudados por Max Weber: O domínio político do grupo Sarney assentado na dominação tradicional de famílias e na dominação legal de instituições políticas, jurídicas, sociais, midiáticas e econômicas de um lado, e na liderança carismática de Jackson Lago de outro lado, profundamente impactada pelo fogo amigo de “aliados” e pelo poder político e econômico do grupo Sarney.

Nas eleições passadas a maioria acachapante dos prefeitos supostamente pedetistas abandonou o barco trabalhista e correu para o aconchego do Palácio dos Leões.

O Jackson acreditava numa nova leva de “pedetistas” que o abandonaram sem a menor cerimônia e correram para os braços não de Roseana Sarney, é bom que se diga, mas do Palácio dos Leões que controla o orçamento do estado. São as tais “aves de arribação”, como o saudoso Jackson gostava de chamar essa parte da classe política maranhense.

Mas o abandono político não se deu apenas nas hostes pedetistas, não. A aliança PSB-PPS-PCdoB e uma parte do PT erraram o alvo em termos político-eleitorais. Correram atrás dos votos da aliança PDT-PSDB-PTC contribuindo para que o PMDB e seus aliados ficassem com uma avenida eleitoral aberta e larga, apenas o ex-governador Jackson Lago a enfrentando com todos os problemas estruturais e políticos que conhecemos.

Um dos episódios mais equivocados das eleições passadas foi à estratégia do "fogo amigo", que mandou o ex-governador Jackson Lago para o terceiro lugar. Isso produziu profundas feridas no PDT que ao meu sentir não serão fechadas de uma hora para outra. Talvez seja uma reconciliação difícil e complicada.

O ex-governador José Reinando Tavares depois de se voltar contra seu criador José Sarney, resolveu voltar-se em 2010 contra a candidatura legítima e legal do ex-governador Jackson Lago em benefício de Flávio Dino.

Aliás, em 2006, Zé Reinaldo investiu todas as fichas no primeiro turno no seu candidato que era Edson Vidigal e este em posição política coerente foi para cima dos sarneys. Vidigal em 2006 demonstrou como duas candidatura de oposição devem se comportar: ambas irem para cima do adversário comum. Vidigal foi leal com a oposição. Pode não ter sido leal com o Sarney, mas com a oposição ninguém pode duvidar disso.

Assim como não se pode esquecer de outra figura que foi leal ao Jackson e ao PDT. Refiro-me ao ex-deputado federal e candidato a senador nas eleições passadas Roberto Rocha (PSDB), que sempre foi defensor da estratégia do “tucano e da rosa”.

Mas parece realmente que Karl Marx tem razão quando diz que a oposição tem um defeito congênito: “a divisão interna”.

O ex-governador José Reinaldo pensou que poderia fazer com Flávio Dino o mesmo que fez com Jackson Lago: ajudar a levá-lo ao Palácio dos Leões como ocorrera em 2006 com Jackson e Vidigal. Eram os dois contra Roseana e a branca perdeu nas urnas e depois virou o jogo na Justiça. É o tal Poder Legal ao qual Jackson nunca se dedicou muito preferindo ficar com seu poder carismático.

O que faltou? Varias coisas. Flávio ainda não tem a trajetória política que Jackson tinha e também não tinha um padrinho político-eleitoralmente forte e, principalmente, penso que faltou a Coligação “Muda Maranhão” (PC do B, PPS e PSB) correr atrás dos votos da Coligação o “Maranhão não pode para parar” encabeça pelo PMDB da governadora Roseana Sarney Murad.

Acho que ninguém desconhece o esforço do ex-governador Jackson Lago para que Flávio Dino fosse candidato. Foi determinante a atuação de Jackson para que Flávio conseguisse o PPS de Paulo Matos, que era ligado ao governador Jackson. A estratégia correta de Jackson era duas candidaturas de oposição fortes contra a da governadora.

Mas a indefinição jurídica de Jackson se apresentou como a “maçã proibida da oposição” para a estratégia da Coligação “Muda Maranhão”, que houve por bem enfrentar garbosamente a Coligação “O Povo é Maior” de Jackson Lago, ao revés de enfrentar a Coligação "O Maranhão não pode parar" (PMDB, PT, DEM, PTB, PV, PR, PSC, PRB, PRTB, PSL, PHS, PMN, PTN, PTdoB, PP e PRP).

Não deu certo obviamente porque na casa que não tem pão ou tem pouco pão todo mundo briga e ninguém tem razão: os votos de Jackson foram divididos com Flávio Dino e os de Roseana permaneceram incólumes com ela e seu grupo político. Deu no que deu a oposição perdeu uma vez mais por causa do “fogo amigo” e do poder político e econômico do grupo Sarney.

O fogo amigo comeu a maçã proibida, ou seja, a indefinição jurídica do registro de Jackson em relação à lei da Ficha Limpa, que foi divulgada pelos quatro cantos do estado o quanto se pode. Dizia-se que o único candidato em quem era seguro votar era em Flávio Dino. Se fosse o eleitor votasse em Jackson era voto perdido. A tese do voto útil, como se sabe, beneficiou Flávio Dino em detrimento de Jackson Lago. Uma estupidez político-jurídica nunca antes vista no Maranhão.

Pessoalmente acho que se Flávio Dino tivesse feito algum gesto de companheirismo ao ex-governador Jackson Lago, como fez Vidigal em 2006 e 2010, hoje seria o sucessor inconteste do maior líder popular que o Maranhão já teve: Jackson Lago.

Mas como se sucederam as eleições passadas, a sucessão política de Jackson ainda terá muitos desdobramentos.

Você leitor já impaciente deve estar se perguntando: bom e o legado do PDT?

O PDT é sem nenhuma dúvida o partido político com o maior legado eleitoral do Maranhão, quer não queiram uns e outros. É o único partido maranhense de oposição a família Sarney que já teve quatro candidaturas de governador. É o único partido maranhense que já governou São Luís diretamente por quatro vezes. E definiu em favor do PSB uma vez. É o único partido de oposição que também que já chegou ao Palácio dos Leões. Costumo dizer quanto que o 12 é para o Maranhão em termos populares o que o 13 é para o Brasil.

Sim, mas afinal de contas o PDT vai de PCdoB-PSB-PPS ou vai de PSDB-PTC ou com o próprio PMDB-PT e companhia como alardeia a mídia maranhense?

Penso que o PDT é ciente do seu valor e por enquanto preferiu ficar consigo mesmo e com seu histórico. Está se organizando internamente. Ontem mesmo a maioria absoluta dos membros da Comissão Provisória Estadual indicou Igor Lago para substituir o ex-governador Jackson na presidência da Comissão Provisória Estadual. A viúva Clay Lago foi indicada para o diretório nacional e a diretoria executiva no lugar de Jackson.

Que o diga a decisão genial de Jackson de ser velado na sede de seu partido ao invés de ser velado no Palácio dos Leões ou na Assembléia Legislativa do Maranhão como era de direito.

Para mim essa dramática decisão política é cheia de significado político-partidário e reafirma seu poder carismático e seu compromisso com o partido. Para o PDT talvez seja realmente melhor “ser cabeça de sardinha do que bunda de tubarão”. Depois de sua larga trajetória não tem vocação para ser partido satélite o “cabeça de bagre” e haverá de seguir seu caminho e continuar sua rica histórica política no Maranhão, ao contrário do que pensam e dizem os maledicentes partidos adversários e, principalmente, os irmãos.

Na Assembléia os quatro deputados do PDT decidiram, a meu juízo, corretamente em formar um bloco apenas com seus quatro deputados. As razões foram inúmeras, mas se pode elencar algumas delas.

A primeira é porque é o único partido de oposição com número suficiente de deputados para formar um bloco. A segunda razão é a de que o PDT maranhense com todos os seus problemas é o maior partido político de oposição do Maranhão e, por isso mesmo, os deputados entenderam que entre se submeter à liderança socialista-comunista do PSB, PCdoB e PPS e seguir seu caminho sozinho esta era a melhor opção naquela ocasião. Até hoje há deputados irmãos que criticam o PDT por ter ficado consigo próprio. A arrogância de alguns é tamanha que mais parece à reedição da estratégia do “fogo amigo” a partir da Assembléia Legislativa.

Em terceiro lugar, não se pode esquecer que as feridas eleitorais pedetistas sofridas por Jackson Lago em 2010 e provocadas em grande medida pela atuação do “fogo amigo”nas eleições de 2010 se encontram muita abertas, o que afugentou e ainda afugenta muitos pedetistas de comunistas, socialistas.

Para mim uma coisa é certa: o PDT é como uma viúva política jovem, bonita, com um grande patrimônio eleitoral, com um grande legado deixado pelo maior líder popular da histórica política do Maranhão que foi o nosso Dr. Jackson Lago, é uma viúva bem estabelecida e, por isso mesmo, muito cobiçada por gregos, troianos e espartanos da política maranhense. Ele PDT saberá o que fazer na hora certa.

O que deve fazer o PDT maranhense?

Do passado deve preservar a memória e o legado de Jackson Lago. No presente é hora de se recompor e fazer o dever de casa. E o futuro é preparar-se com muita parcimônia para 2012 e 2014, preservando o muito que há de bom e realizando uma profilaxia partidária com uma depuração de seus quadros, pois como disse Álvaro de Campos no seu ultimatum: “o mundo quer a inteligência nova, o mundo tem sede de que se crie, o que aí está a apodrecer a vida, quando muito, é estrume para o futuro”.

(*) MARCO AURÉLIO GONZAGA SANTOS, Advogado, professor licenciado da UFMA em Imperatriz, consultor político e econômico, é advogado do PDT desde 2002 e foi advogado do ex-governador Jackson Kleper Lago.

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