Estamos atravessando a maior e mais desafiadora crise sanitária de nossas vidas, com profundos impactos que impeliram a Educação a rever caminhos e buscar estratégias para evitar que uma geração se perca sem conhecimento e formação. E, quando me refiro à Educação, não trato isoladamente de seu sentido etimológico, como um meio pelo qual os costumes e valores são transferidos de uma geração para outra. Trato de sua força transformadora e de sua resistência constante, ao longo da história. Afinal, como assinalou Paulo Freire, é impossível viver sem educação, pois “se ela sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”.
Mesmo a distância, a Educação tem o poder de alcance incomensurável. Vide o exemplo do apóstolo Paulo, que difundiu em, aproximadamente, 20 anos, os ensinamentos do evangelho de Cristo, por todo o mundo, com envio de cartas que romperam as barreiras longitudinais da época, mesmo durante o período em que esteve preso. Cartas que deixaram legados, inclusive contribuindo para a formação da cultura ocidental, conforme referências na Bíblia Nova Versão Internacional.
No Brasil, é preciso destacar outro marco histórico da força da educação, com destaque para os jesuítas, que realizaram uma considerável obra missionária e evangelizadora, sobretudo lançando mão de “novas metodologias, das quais a educação escolar foi uma das mais poderosas e eficazes. Em matéria de educação escolar, os jesuítas souberam construir a sua hegemonia”, como ressaltou Sangenis (2004).
Outro período importante e característico para a educação brasileira foi em meados dos anos 80 e 90, quando o Brasil chegou a ser líder, na modalidade de Educação a Distância, como metodologia para a oferta de cursos técnicos e de iniciação profissional, ainda na primeira metade do século XX, em cursos por correspondência, alguns facilmente localizados em listas telefônicas, manuais e revistas vendidos em bancas e livrarias. Posteriormente, esses cursos foram transmitidos em emissoras de rádio, com programas de educação, gravados em vinil e, em seguida, migraram para a televisão, época em que surgiram as iniciativas que ficaram conhecidas como teleducação ou telecursos, quando fundações privadas e demais organizações passaram a oferecer supletivos a distância. É preciso realçar, nesse marco, o papel importante de fundações como a Roberto Marinho e a Roquette Pinto, que trouxeram contribuições significativas para a educação, mediadas por essas tecnologias.
Com o advento da internet e, também, de novas perspectivas pedagógicas, todo esse marco histórico de tecnologias deu lugar às novas tecnologias de informação e comunicação (TICs), que têm um uma forte influência nos interesses dos nossos estudantes e no processo de ensino e da aprendizagem, notadamente com a universalização do acesso à educação presencial, no Brasil e que deram um salto positivo, nos anos finais do século XX e início do século XXI.
Atualmente, poderíamos até questionar: junto com a pandemia do novo coronavírus houve, também, um retrocesso, quando precisamos retomar o ensino a distância, com o uso da TV e do rádio, por exemplo, para preservar a vida de milhares de estudantes, professores e servidores da escola?
Com a utilização de tecnologias educacionais, cada vez mais modernas, a Educação, principalmente no Maranhão, lançou mão de uma multiplicidade de meios com o objetivo principal de democratizar o acesso de todos os estudantes, independente das barreiras impostas pelo distanciamento social – necessário – neste momento, ou das longínquas comunidades deste Estado de extensões territoriais.
O governo Flávio Dino optou por inúmeros caminhos e canais eletrônicos, mídias e impressos para não deixar ninguém para trás. Cito a TV Educação – Caminho para o saber, um canal aberto e exclusivo, já no ar, com exibição de aulas e conteúdos educativos e culturais; aulas pelo rádio, com transmissão diária de podcasts na Rádio Timbira; a plataforma Gonçalves Dias na internet, onde os estudantes têm acesso a conteúdo em vídeo e roteiros de estudo, que irão auxiliá-los na aprendizagem, durante as aulas remotas e pré-vestibular gratuito com qualidade. Além disso, o canal do Youtube da Seduc, redes sociais, como WhatsApp, Instagram, Facebook e plataformas como Google Meet, entre outros; materiais impressos, para quem não tem conectividade e a distribuição de 200 mil chips, com pacotes de dados de internet, a estudantes e professores. Parte dessas ações teve início no passado e foi potencializada para 2021.
São inúmeras ferramentas, entre elas, as que perpassaram e se modernizaram ao longo dos tempos, como a TV e o rádio, veículos de comunicação que, outrora, já auxiliaram no processo educacional e, pelo caráter universal e democrático de ambos, exercem, em momentos como este, uma contribuição fundamental para assegurar o acesso e a manutenção do vínculo estudante e escola, diariamente.
“Os seres humanos não nascem para sempre no dia em que suas mães os acendem, mas a vida os obriga a dar a luz a si mesmos repetidas vezes”, Gabriel García Márquez. Uma das frases que o imortalizaram.
Felipe Costa Camarão é professor, secretário de Estado da Educação, Membro Titular do Fórum Nacional de Educação – FNE e membro da Academia Ludovicense de Letras e Sócio do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão
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