27 janeiro, 2011

COLUNA DO LUIZ CARLOS: QUEM É ESSE SER HUMANO?

“A busca pela essência deve iniciar-se pela análise da existência”(Jean Paul Sartre)

A reflexão filosófica descobre e projeta o ser humano como problema. Tal perspectiva problemática dilacera e inquieta o pensamento filosófico da pós-modernidade. De certa forma, ele (in) compreende o ser humano a partir de princípios opostos que se mantêm numa tensão insuperável.

Para ilustrar essa tensão, colocamos algumas indagações fascinantes, mas também incômodas da condição humana.

O ser humano congrega e dispersa. O ser humano é lúcido e nebuloso. O ser humano expande-se festivamente e recolhe-se amargamente. O ser humano é racional e irracional. O ser humano gargalha e enclausura-se. O ser humano é diálogo que constrói e monólogo estéril. O ser humano é amor pulsante e gotejador de ódio feroz. O ser humano mescla com naturalidade Eros e Tânatos. O ser humano fala de paz e faz a guerra. O ser humano é potencial ontogenético e niiligenético. O ser humano é gênese existencial.

O ser humano é um enigma. Enigma da pessoa que busca felicidade, e cujas aspirações, constantemente, são ameaçadas por um destino incompreensível.

Enigma do ser humano, que, apesar das imposições desse destino, quer controlar os fatos, construir a sua vida e alcançar a felicidade e a plenitude da vida.

É na inexorável tensão entre essa aspiração e os fatos reais que se desenvolve a vida. E é a partir dessa tensão que a reflexão filosófica esboça um caminho e/ou caminhos para possíveis respostas.

Parece óbvio ou lógico assertivar que todo ser humano encontra o seu sentido à medida que realiza aquilo que é a própria essência do seu ser. Porém, ao longo da história percebe-se que a essência daquilo que é o ser humano não se acha de maneira tão fácil, simplesmente pronta e engessada.

Esse sentido (essência), porém, não se apresenta como resultado gratuito. Ele, bem pelo contrário, é conseqüência de uma decisão consciente. Nela, a pessoa se confronta com a absurdidade imposta à sua existência, por parte de condições exteriores. Essas condições não são simplesmente aceitas. O homem não se dobra, chorando o seu destino imutável. Em vez disso, decide revoltar-se contra esse destino, mesmo sabendo que não poderá mudá-lo. A sua revolta consiste numa atitude de teimosia.

A situação se agrava ainda mais pelo fato de o homem ter consciência de tudo isso. Ele está condenado a ser um ente consciente; e na sua consciência consciente, agora, se confronta com o seguinte dilema: ou acabar com a sua existência, ou dar a ela um sentido (essência), apesar dela não ter um sentido em si. Nessa decisão, assim como no caminho de dar sentido á sua existência, cada pessoa deve ficar totalmente livre; ela até é “condenada” a ser livre.

ENIGMA

Formando

A meu lado

Um enigma

Desconhecido que é mais

Enigma conhecido.

Pelas vielas da existência

Passa

Sem perceber

O rosto que reflete um rosto.

Livrar-se da dúvida

Que atormenta e dilacera

E

Re-inventa o perfil lapidado

Pelo tempo.

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