06 janeiro, 2011

Coluna do Luiz Carlos: Barra do Corda

O nobre professor Luiz Carlos, estréia como colunista no Barradocordanews onde também estará contribuindo com sua sabedoria para com o nosso blog. Seja bem vindo amigo!

CRÔNICA

BARRA DO CORDA-MA

03 DE MAIO DE 1835-03 DE MAIO DE 2011: IMINÊNCIA DOS 176 ANOS DE (IN)TEMPORALIDADES

* Luiz Carlos

O teatro era o nome desse incêndio,

Mas alguém dizia que era também a imagem parada
Onde há muito a Urbe se perdera
Nas cortinas velhas, desfiguradas e tempestuosas de uma longa e histórica noite.

Sempre senti, desde a minha adolescência, que Barra do Corda era assinalada por uma angústia (in) temporal oriunda do extremo do universo. Não é, obviamente, um sentimento que se assemelhe com o pasmo poético dos abismos insondáveis caxiense, das orlas mágicas meridionais ludovicense, ou dos cumes do Sertão maranhense. Mas desde sempre reconheci, no mais recôndito crivo da minha consciência, que essa característica existia por trás das inevitáveis vestes épicas ou insignificantes com que as gerações de todos os presentes se auto-representam.
Uma geração, dentro dos parâmetros sociológicos, aspira incansavelmente ao ápice da história e faz da sua coreografia, da sua espacialidade, da sua identidade cultural, da sua Urbe e da sua terra o lugar desse cerimonial singular. Esta desfocagem dos autóctones é universal, mas Barra do Corda, por motivos pragmáticos e históricos, é, por trás da letargia e orgulhos fáticos, uma cidade singular, particular.
Barra do Corda é uma Urbe que, como todas, se particulariza no tempo em contraste com a parcialidade das gerações e com as morfologias do território. Grande parte do que a Ube é e vai sendo, na sua caminhada entre (in)temporalidades, faz parte inequívoca do que se podia ser designado pelo seu horizonte secular.
Por isso a Urbe Barra do Corda, na iminência de completar seus 176 anos ali está, habitada pelo seu espaço, presente, posicionada e aparentemente incólume, e, ao mesmo tempo, tão terrivelmente senhora de si mesma e da sua quase( in)temporalidade. E por isso Barra do Corda ergue-se diante de nós, como se nada fosse ou pretendesse ser, ou pretensamente não dito do seu encanto, assim como uma parte pungente daquilo que Borges designou por desilusão na sua História da Eternidade.
De algum modo, de forma enigmática, a Urbe de Barra do Corda é propensa à desestruturação, ao spleen da imobilidade, à volúpia insaciável e à angústia desmedida do desejo, já que nela domina a tentação de levar a cabo a releitura(que não quer silenciar) dos seus textos presentes no seu patrimônio arquitetônico tão vilipendiado, imaginários, passionais e espaciais, num movimento concomitantemente ascendente e descendente, e que visaria, num só plano, tanto os rastos, as ruínas e os vestígios, como as presenças,as ausências, o agora-aqui e o emergir às vezes informe do próprio discurso contemporâneo (que é o nosso).
Barra do Corda também tem uma herança eclética e holística, é verdade. Reduto, afinal, da sua capacidade de permanecer nas (in)temporalidades.

* Luiz Carlos Rodrigues da Silva, 48, filósofo e historiador, mora em Barra do Corda e é membro da Arcádia Barracordense e Academia Barracordense de Letras.



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