18 agosto, 2025

Moraes desafia Trump e diz que não recuará "um milímetro"

Ao Washington Post, ministro do STF afirma que 'Brasil foi infectado pelo autoritarismo; nossa função é vacinar’

Ministro Alexandre de Moraes, do STF 09/06/2025 (Foto: Reuters/Diego Herculano)

247 - O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, declarou em entrevista ao Washington Post que não pretende ceder diante das pressões internas e externas sobre seu trabalho no combate à desinformação e aos ataques à democracia no Brasil. Segundo Moraes, mesmo após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, impor tarifas de 50% a produtos brasileiros, revogar seu visto de entrada e incluí-lo na lista de sanções da Lei Magnitsky, não haverá recuo em suas decisões contra Jair Bolsonaro (PL) e aliados acusados de tentativa de golpe.

“Não existe a menor possibilidade de recuar nem um milímetro”, disse Moraes. “Faremos o que é certo: receberemos a acusação, analisaremos as provas, e quem tiver que ser condenado, será condenado; quem tiver que ser absolvido, será absolvido”, completou..

Donald Trump tem acusado Moraes de conduzir uma "caça às bruxas" contra Bolsonaro, seu aliado político, alegando restrições à liberdade de expressão devido às investigações sobre desinformação. O Washington Post descreveu Moraes como um “xerife da democracia”, lembrando que o ministro já determinou a suspensão do X no Brasil, o que fez com que o bilionário  Elon Musk, dono da rede social, o chamasse de “Darth Vader do Brasil”.

Para o jornal americano, ao colocar Bolsonaro em prisão domiciliar e bani-lo das redes sociais, Moraes “silenciou uma das figuras mais conhecidas da direita global”.

A reportagem destaca que, em 2019, diante da escalada de ataques de Jair Bolsonaro e de seu filho Eduardo Bolsonaro ao STF, Moraes foi designado para comandar um inquérito sobre fake news e retórica antidemocrática. Ele comparou o fenômeno ao de uma doença que exige prevenção. 

“O Brasil foi infectado pela doença do autoritarismo. Nosso papel é aplicar a vacina". Na entrevista, Moraes ressaltou que, diferentemente dos EUA, onde nunca houve golpe, o Brasil já enfrentou períodos de ditadura sob Getúlio Vargas e o regime militar de 1964, o que explica a necessidade de vigilância permanente.

O ministro também rejeitou críticas de que teria acumulado poder em excesso. Segundo ele, mais de 700 decisões de sua relatoria já foram revisadas pelo STF após recursos, sem que nenhuma tenha sido derrubada. “Você sabe quantas eu perdi? Nenhuma”, afirmou.

Ele também destacou que a atual tensão entre Brasil e EUA seria “temporária” e motivada por narrativas falsas, amplificadas por figuras como o deputado Eduardo Bolsonaro.

“Essas narrativas falsas acabaram envenenando a relação, narrativas falsas apoiadas por desinformação espalhada por essas pessoas nas redes sociais”, ressaltou o ministro. “O que precisamos fazer, e o que o Brasil está fazendo, é esclarecer as coisas”.

Na entrevista, Moraes disse admirar a tradição constitucional americana e citou nomes como John Jay, Thomas Jefferson e James Madison como referências. Ao mesmo tempo, admitiu que sua vida pessoal foi impactada pelo trabalho no combate ao autoritarismo. “É agradável passar por isso? Claro que não é agradável. Mas, enquanto houver necessidade, a investigação vai continuar”, disse.

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