247 - A semana começa com atenções voltadas para a preparação da aguardada conversa entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Donald Trump, presidente dos Estados Unidos. O gesto marca um passo importante para reaproximação diplomática após meses de atrito entre os dois países.
Segundo o jornal O Globo, o aval para o primeiro contato foi dado pelos dois mandatários na semana passada, à margem da Assembleia Geral da ONU, em Nova York. A iniciativa ocorre após meses de sanções impostas por Washington a produtos e cidadãos brasileiros.
Possíveis cenários para o encontro
A expectativa inicial do Palácio do Planalto é que a primeira conversa ocorra por telefone ou videoconferência ainda nesta semana, conforme anunciado por Trump durante seu discurso na ONU. No entanto, não está descartada a realização de uma reunião presencial em território neutro. Entre as opções em estudo, estão a participação na conferência da FAO, em Roma, em 13 de outubro, e a cúpula da Asean, na Malásia, no dia 25 do mesmo mês.
Interlocutores de Lula avaliam que a reaproximação representa também uma derrota para o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que desde março faz lobby em Washington por sanções contra autoridades brasileiras, em especial o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Moraes foi o responsável pela condenação de Jair Bolsonaro (PL) a 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado.
Pressões internas nos EUA
A decisão de Trump também contraria parte do Departamento de Estado. O secretário Marco Rubio e membros de sua equipe vinham adotando postura mais dura, incluindo o cancelamento de vistos e ataques a autoridades brasileiras nas redes sociais. Na semana anterior ao breve encontro entre Lula e Trump na ONU, a esposa de Moraes, Viviane, chegou a ser alvo das sanções da chamada Lei Magnitsky, que prevê punições a estrangeiros acusados de corrupção ou violações de direitos humanos.
Interesses em jogo
Para Lula, a retomada do diálogo é uma oportunidade de reforçar que não adota posições antiamericanas e que o Judiciário brasileiro atuou de forma independente no processo contra Jair Bolsonaro. Já a Casa Branca tem demandas específicas: ampliar o acesso a minerais estratégicos no Brasil, discutir a regulação de plataformas digitais que afetam big techs norte-americanas e tratar de preocupações relacionadas ao PIX, que, segundo autoridades, estaria impactando empresas de cartões de crédito dos EUA.
Apesar da abertura para negociações, integrantes do governo brasileiro frisam que a soberania nacional não será colocada em questão e que não há espaço para tratar da situação judicial de Bolsonaro.
Riscos de novas sanções
O Brasil já foi alvo de sobretaxa de 50% em seus produtos antes da condenação de Bolsonaro e, posteriormente, de uma série de sanções individuais. Além disso, Washington abriu investigação com base na Seção 301 da Lei de Comércio, abrangendo temas como desmatamento, práticas comerciais, regulação do PIX e até comércio informal em São Paulo. A decisão sobre novas medidas pode ser anunciada em cerca de um ano.
Contraponto brasileiro
Em resposta, o Congresso brasileiro aprovou a chamada Lei da Reciprocidade, que permite retaliações a países que impuserem sanções ao Brasil. Embora o aumento de tarifas a produtos americanos seja considerado inviável por seus impactos econômicos, outras opções permanecem sobre a mesa, como a cassação de patentes de medicamentos e a taxação de produções cinematográficas de Hollywood.
O avanço das tratativas entre Lula e Trump deve definir os rumos da relação bilateral nos próximos meses e indicar se a crise será superada ou se novas tensões surgirão.
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