03 janeiro, 2012

MENSAGEM DE ANO NOVO EM TEMPOS DE INCERTEZAS E DE NOVAS PROFECIAS

O renomado pensador francês Edgar Morin, no ano 2000, publicou o fantástico Sete saberes necessários à educação do futuro. Nesta obra ele apresenta os conhecimentos imprescindíveis para a hermenêutica do mundo no alvorecer do novo milênio. Com a chegada iminente do ano de 2012 fica evidente que um dos mais importantes é saber ler com exatidão, no âmbito etimológico e semântico. Há inúmeras profecias escatológicas rondando o ano que se aproxima. Apregoa-se que o mundo acabará em 21 de dezembro de 2012. O novo embasamento é o calendário Maia. Observa-se, porém, uma fantástica incapacidade de interpretação da linguagem mitológica. Aliás, é bom recordar que não é a primeira vez que isso acontece. A hermenêutica historiográfica está repleta destes exemplos: fundamentalistas cristãos, muçulmanos ou judeus que dizimaram milhões de seres humanos em nome de Deus. Hodiernamente o que está acontecendo em relação ao calendário Maia é semelhante. Nas três últimas décadas vários “profetas” identificaram na linguagem iconográfica do calendário Maia alusões de hediondos cataclismos para o século XXI. Portanto, o fim do mundo tem uma nova data. Novamente vivenciamos o trágico “espetáculo” do Juízo Final. Desta vez aparece um fato insólito, que é o de não se mencionar a volta do Messias, Jesus Cristo. O fato pode ser explicado porque a profecia está relacionada à civilização pré-colombiana Maia. Esta civilização se desenvolveu na Península de Yucatán, no sul do México, e na América Central, em regiões que hoje fazem parte da Guatemala, de El Salvador e de Honduras. No âmbito teológico eles adotaram uma postura politeísta.

Para entendermos melhor o que retorna nestas novas hermenêuticas apocalípticas é necessário analisar um dos diversos elementos da cultura maia que chegaram até os nossos dias: seu método de contagem do tempo. Eles idealizaram dois calendários: o religioso, com base na Lua, chamado Tzolkim (relacionado a aspectos da vida humana), tinha 260 dias divididos em 13 meses com 20 dias (kins) cada; o outro, Haab, mais parecido com o nosso, era o calendário agrícola (que organizava as etapas do plantio e da colheita), com 365 dias repartidos em 18 meses de 20 dias. Hábeis matemáticos criaram um complexo sistema de sincronização – a “Roda Calendárica” – desses dois calendários, nada fácil de explicar. Em linhas muito gerais, a cada 52 voltas do Haab (um ciclo de 18.980 dias) correspondia um novo século, quando era realizada a cerimônia do fogo novo. (GILBERT, Adrian. As profecias maias).

Segundo Anthony F. Aveni, professor de Astronomia e de Antropologia da Colgate University, de Nova York,para os maias, o fim de um ciclo é um momento de renovação, o início de uma nova era – o que desencadeou uma onda de mitos sobre o fim do mundo. O principal diz que o mundo acabará em 21 de dezembro de 2012. O dia é significativo no calendário justamente porque indica o fim de um ciclo e o início de outro, mas nenhum registro daquela civilização autoriza a afirmar que o mundo acabará naquela data.

Outras versões dão conta de que um tal Planeta Nibiru (ou Planeta X) estaria em rota de colisão com a Terra, o que não seria possível, pois, além de não haver dados concretos sobre a sua existência, se fosse entrar em choque com a Terra no ano que vem, hoje já poderia ser visto a olho nu, segundo o astrônomo Marcelo Gleiser. O professor de Astronomia e Filosofia Natural do Dartmouth College, nos Estados Unidos, ainda desmente a suposição de que um alinhamento galáctico envolvendo o Sol, a Terra e o centro da galáxia destruirá nosso planeta. Só que esse fenômeno acontece todo mês de dezembro. Observa-se que a maioria das profecias maias não passa de interpretações equivocadas dos mitos dessa cultura.

Tempestades solares, inversão dos pólos magnéticos da Terra, erupção de um supervulcão, cataclismo planetário. “Esse frenesi todo é irracional”, garante o físico brasileiro Marcelo Gleiser. Mais uma vez fez-se presente a poderosa indústria cinematográfica norte-americana, que levou às telas “2012: o ano da profecia” (2009), uma superprodução que consumiu 200 milhões de dólares. Sucesso de bilheteria em vários países, como o Brasil, o filme mostrou que os mitos nascidos da credulidade humana ainda são generosas fontes de lucros e continuam fascinando a humanidade.

Neste novo cenário, ouso desejar um Feliz Ano.


Por: Luiz Carlos Rodrigues da Silva

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