Ao menos metade dos aprovados no concurso para delegado da Polícia Civil de Maranhão, realizado em 2017, decidiram não assumir o cargo. Eles foram chamados para tomar posse, por meio de convocação no Diário Oficial, mas desistiram e não se apresentaram.
Dos 12 chamados pela Secretaria de Segurança Pública, ao menos seis renunciaram às vagas, após serem convocados no dia 28 de junho, conforme publicação Diário Oficial do Estado.
O g1 conversou com algumas das pessoas que desistiram de tomar posse. Dentre os motivos para não querer ser delegado no Maranhão, os convocados afirmam que há uma desvalorização da categoria em relação aos outros estados, falta incentivo para quem é de fora, e falta estrutura para trabalhar, especialmente no interior do estado.
"As condições de trabalho são um ponto negativo. Como meus filhos estão no Rio, eu precisaria me deslocar com frequência para o RJ e ficar longe da capital, São Luís, dificultaria muito. Em virtude disso, o salário não compensaria para mim, levando em consideração a despesa que teria com o deslocamento. Além das condições de trabalho no interior serem muito ruins", afirmou Thiago Fontes, que é Analista no TRF 2ª Região no Rio da Janeiro e o optou por ficar.
Dos 12 convocados no último concurso, em 2017, ao menos metade não quis assumir o cargo de delegado no Maranhão — Foto: Diário Oficial do Maranhão
Um outro convocado, que atualmente é delegado no Rio Grande do Sul, reclamou ainda da demora para ser chamado, visto que a formação terminou em 2018 e só agora o governo decidiu convocar os aprovados.
"Praticamente cinco anos entre a academia e a nomeação. Curso de formação terminou em dezembro de 2018. Governo levou cinco anos para convocar pouco mais de 100 Delegados. Imagina o Estado gastar dinheiro com a formação de profissionais, dos quais muitos tiveram que sair de seus empregos, e somente após cinco anos fazer a nomeação. No meu caso, assumi como Delegado no Rio Grande do Sul", informou.
Ação que resultou na prisão do suspeito foi comandada pela Delegacia de Montes Altos. — Foto: Divulgação / Polícia Civil do Maranhão
A Associação dos Delegados de Polícia Civil do Maranhão (ADEPOL/MA) também afirmou que a situação estrutural e humano no estado é preocupante com base em um "um quadro de total e completo sucateamento da Polícia Civil".
"É fruto de um processo histórico de abandono, bem como o desprestígio com o cargo de delegado (....). Esclarecemos que Polícia Civil do Maranhão possui o segundo pior efetivo e o cargo de delegado ocupa a 21º posição no ranking de comparação dentre os subsídios de todas as 28 Unidades da Federação, não olvidar que, segundo dados do MJ, o Maranhão é o segundo Estado que menos investe em segurança pública dentre todas as 27 unidades federativas do Brasil", diz a associação.
Em nota, o governo do Maranhão afirmou que há um 'Plano de Reestruturação' que está equipando e climatizando as delegacias, a exemplo da Delegacia de Amarante e outras da região Tocantina; e que entregou novas viaturas policiais, armamento, coletes, entre outros dispositivos de segurança.
Ainda sobre a questão estrutural, o governo disse que, entre 2022 e o primeiro semestre de 2023, já foram reformadas e entregues as delegacias de Paulo Ramos, Cedral, Vitória do Mearim, Bequimão, São Mateus, Balsas, DENARC e DHPP de Caxias e a Delegacia da Mulher de Timon.
Já em relação à recusa de convocados para assumir os cargos de delegado, o governo disse que 'segue efetuando a nomeação dos novos servidores aprovados em concurso e recém-convocados' para as funções de delegados, escrivães e investigadores.
G1 MA
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