Em uma sessão marcada por contradições e pelo evidente controle do poder executivo municipal sobre o legislativo, a Câmara Municipal de Grajaú protagonizou nesta quarta-feira (10) um dos episódios mais controversos da história política recente do município. Ignorando o parecer do Tribunal de Contas do Estado (TCE-MA) e em contradição ao próprio Regimento interno, os vereadores rejeitaram as contas do ex-prefeito Mercial Arruda, que tinham parecer técnico favorável no TCE-MA e na Comissão de Orçamento da Casa, e aprovaram, no mesmo dia, as contas do ex-prefeito Júnior Otsuka, em igual situação.
A incoerência, porém, não se limita ao resultado. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que, segundo o regimento interno da Casa, não é a comissão competente para analisar contas públicas, assumiu para si o protagonismo e apresentou parecer pela rejeição das contas de Mercial, mesmo diante da orientação clara do TCE-MA.
Liderados pelo prefeito Gilson Bomfim, os vereadores Alexandre Calango, Antônio Carlos da Vilinha, Arthur do Neto Carvalho, Cristiano Fontenele, Dr. Eduardo Ribeiro, Henrique Melo, Paulo do Zé Jorge, Rafael Gonçalves, Regina Mundoca, Zé Birita e Zezinho do Gesso votaram pela desaprovação das contas de Mercial. Apenas o presidente Elielson do Caboco Mamedio, Flávio Henrique e Pedim do Remanso acompanharam o parecer técnico do TCE-MA.
A votação não apenas desconsiderou a recomendação do órgão responsável pelo controle externo das contas públicas, como também reforçou a percepção, já difundida no município, de que a Câmara tem operado menos como Poder Legislativo e mais como extensão do Executivo municipal. O episódio chama atenção e surpreendeu alguns eleitores, já que tanto o Prefeito Gilson Bomfim, quanto a maioria dos vereadores que votaram pela desaprovação das contas de Mercial Arruda foram eleitos no palanque do ex-prefeito, com exceção dos vereadores Regina Mundoca, Zé Birita e Zezinho do Gesso.
A contradição que expõe o jogo político
Se a rejeição das contas de Mercial já parecia um movimento político disfarçado de análise técnica, o caso de Otsuka escancarou a contradição que guiou a sessão. Para as contas referentes aos anos de 2013 a 2016, a mesma CCJ apresentou parecer pela reprovação. Mas dessa vez, a base governista adotou posição oposta à que usou contra Mercial: votou pela aprovação. A seletividade, tão evidente quanto desconfortável, lança dúvidas sobre a autonomia do Legislativo e sobre a capacidade dos vereadores de atuarem com independência mínima em votações que exigem responsabilidade institucional.
Credibilidade em xeque
O saldo da sessão é devastador para a imagem da Câmara de Grajaú. Ao ignorar critérios técnicos, atropelar seu próprio Regimento e atuar conforme a conveniência política do momento, o Legislativo municipal aprofunda a crise de credibilidade que o cerca.
Para parte da população, a votação desta quarta-feira não apenas expõe a fragilidade institucional da Câmara, mas também alimenta a narrativa de que o prefeito Gilson Bomfim exerce controle direto sobre a câmara, transformando votações que deveriam ser técnicas em instrumentos de perseguição e cálculo eleitoral.
Ao final, mais do que uma simples apreciação de contas, a sessão se converteu em símbolo de um Legislativo que, ao abdicar de sua autonomia, compromete a confiança pública e diminui o parlamento.
Via Gláucio Ericeira







